Aqui tem mais!

domingo, 24 de outubro de 2010

Reconheça-o

Acabo de ler no nick de um amigo no msn a seguinte frase: Eu preciso de um amor verdadeiro!
Linda a intenção! Mas fazer uma revelação tão intima é um ato de muita coragem. Tanta coragem que por pouco não torna (ou torna) a revelação no cúmulo da carência!
Será que só ele precisa? Todo mundo precisa de um amor verdadeiro. Todo mundo precisa de segurança, confiança, compreensão, atenção carinho e tantos outros sentimentos que formam o amor. Normalmente ele já existe, mas ninguém vai vê-lo se estiver esperando que ele venha no corpo escultural de uma Juliana Paes da vida! Com um pouco de sorte alguns conseguem encontrá-lo disfarçado de moreno, alto do sorriso branco ou de mulher com curvas sinuosas e cabelos longos.
O amor de verdade não tem embalagem, é um conjunto de sensações invisíveis!
O amor verdadeiro nem sempre se faz presente a vida toda. Um dia o ser que dá vida a ele pode seguir sua jornada por um caminho diferente e o sentimento poderá continuar existindo em forma de felizes lembranças. O amor anda de mãos dadas com a liberdade. Porém aceitá-lo desta forma sem sempre é fácil pois algumas vezes só se percebe que é amor quando ele vai embora. Todos os dias o telefone toca, as perguntas de sempre são feitas, as respostas já não surpreendem, as mesmas palavras são usadas nas declarações o coração já não acelera mais. Um diz eu te amo o outro responde "eu também". Até que um dia um dos dois vai embora e a partir deste dia ele passará a ser o principal objeto de desejo do outro. Ele passa a ser a coisa mais (des)necessária do mundo. Tudo vai lembrá-lo. Aquela música, o restaurante, a rua da casa dele, o perfume, os amigos, as manias e tantos outros detalhes. Logo aquele que era integrante de um romance que já não parecia mais feliz passar ser a principal pauta do dia. Mas é preciso saber diferenciar amor de comodidade, obsessão e posse. O amor verdadeiro conhece a dor da despedida e a aceita. Os outros sentimentos querem que o outro permaneça de qualquer forma.

Quer saber o que é amor de verdade? Vá morar longe da família! A mãe que diariamente era o alvo de stress passa a ser o colo e o carinho mais desejado de todos. O pai durão passa a ser o melhor conselheiro. Aquela comida de todo o dia se torna o melhor feijão com arroz do mundo. E a velha casa se transforma no melhor refúgio.
A distância acaba sendo a ferramenta que faz com que um sentimento incondicional finalmente seja percebido.
As vezes o amor verdadeiro já está ali a tanto tempo que nem é reconhecido mais.
Alguns acreditam que ele será encontrado em um ser do sexo oposto (ou do mesmo sexo), que vai aparecer e transformar a vida em um mar de rosas. O que pode transformar a vida em mar de rosas é prêmio de loteria. O amor verdadeiro potencializa qualidades e reconhece defeitos. Ele não mascara as fraquezas, mas ensina a lidar com elas. Ele não é só elogios, é a consciência do que há de bom e do que deve ser melhorado. Ele é a compreensão mesmo quando não se tem razão. È o perdão sincero. È amparo, é enxugar as lágrimas, compartilhar histórias, estampar sorrisos, surpreender e libertar.

O amor verdadeiro que cada um de nós tanto precisa já existe, agora o próximo passo é reconhecê-lo!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Compreensão

Dois antigos amores tiveram seus destinos revelados de forma dolorosa e inesperada. Um tornou-se a materialização da apatia e outro o óbito.
Tudo o que não se esperava aconteceu. Doeu? Claro que doeu, estamos falando de seres humanos, de carne osso e sentimentos. Doeu em quem se tornou apático, doeu antes do óbito e doeu em quem recebeu isso tudo.
Alguns trazem os sentimentos a flor da pele, outros optam por escondê-lo embaixo de uma camada protetora feita de frieza e comportamento arisco. Mas ambos os perfis conhecem a dor.
Mas porque a apatia tomou o lugar da ternura? E por que o óbito se precisávamos da presença? Entender? Não, o entendimento é lógico demais para sentimentos tão delicados. Nestas horas só existe uma coisa que é capaz de nos manter em pé diante destes questionamentos: a compreensão. A compreensão nasce quando não há como entender, mas também não há motivos para desistir. A compreensão é amiga do tempo. O tempo matura, acalma e responde. E enquanto ele, o senhor de todas as respostas não conclui o seu trabalho restam duas alternativas: aceitar e compreender. A compreensão vem quando o pranto vai embora. Ela não convive com a angústia nem com a obsessão. A compreensão é sábia, se mantém em pé mesmo sem saber por quê. E nem sempre tem resposta para tudo. A compreensão é reconhecida quando se tem todos os motivos para desistir, mas mesmo assim segue-se em frente. Ela não cobra nada em troca, simplesmente se faz presente porque sabe que é esse o seu papel, existir de forma sincera e espontânea, sem buscar razão. Ela é aquele abraço que conforta em silêncio. É não evitar a dor, mas sim aceitar as feriadas e deixar que cicatrize. É ir em frente quando tudo o que mais se deseja é permanecer onde está. É a consciência da importância do sorriso no rosto, mesmo quando o peito está dilacerado. Ela é um manto de paz em meio a guerra. Compreensão é continuar amando, mesmo quando parece não mais existir o amor. A compreensão é obra divina da evolução. A obsessão busca respostas enquanto a compreensão está lá de braços abertos para o que vier pela frente.
Compreensão é entre tantas outras coisas manter as brasas acesas após um balde de água fria.
E assim estou, ainda com as interrogações, mas serena e fortalecida para superar os desafios. Compreendendo, porque de todos os atos que eu poderia ter nessa hora, nenhum seria mais digno do que compreender. Se quiser saber como me encontro, é em paz. Confio nas obras do tempo e nem sempre espero resposta!
Que se cumpram os ciclos!

domingo, 3 de outubro de 2010

Coma

As 23 horas de um domingo de primavera o acompanho ao leito como de costume, desta vez com a presença das quatro filhas, fazemos algumas brincadeiras para estampar um sorriso no rosto e o presenteio com uma massagem. Dou um beijo em sua face e ao lado avisto o espaço vazio na cama, o travesseiro com o cheiro dela. Próximo a porta dois pares de sapatos delicados tamanho 34 que provavelmente não mais serão usados pela dona.
Ela encontra-se no leito de um hospital, com o lado direito do cérebro paralisado, em coma profundo, com poucas chances de sair de lá com vida e certamente sem nenhuma chance de uma vida normal.
Ontem ela completou mais um aniversário, a data foi marcada pela sua ausência, e brindada com uma ponta de esperança de retorno a vida. Até poucos dias atrás ela estava ali, consciente, faceira, sentada na sala assistindo novela e tomando mate. Fazendo dos seus gestos e atitudes uma capa bruta para proteger a fragilidade que se escondia por dentro. A noticia de um quadro quase irreversilvel abala. Nunca estamos preparados para a perda física. E quando ela vem sem avisar é ainda mais dolorosa.
Todos os filhos se reuniram. No quarto as irmãs que não compartilhavam de momentos juntas desde a adolescência encontram em meio a dor um momento para compartilhar vivencias de forma leve, com sorrisos descontraídos.
Ninguém sabe o que acontecerá, o quadro pode se agravar nos próximos dias, ou pode deixar de existir. Todos estão conscientes da possibilidade da perda material. Mas entre estar consciente e estar preparado há uma barreira feita de esperança que separa os dois estágios. Não há mais vida, há um corpo presente e debilitado, aquela alma que até poucos dias dava vida a ele parece já ter partido para um outro plano. Entre o estado vegetativo e o desencarne todos preferem a segunda opção. As noites e os dias serão de vigília. Vovó está em coma, ainda não consigo acreditar. Neste momento a oração é a única fonte de paz. Não oro para que voltes, as sequelas já existem e ela jamais voltará a ser quem era até poucos dias atrás. Mas oro sim para que se viva em outro plano, que se cumpra a vida. O coma faz parte dela.

Esta é a declaração de um fato que se passa em minha família. Estamos vivendo um pré desencarne. Mas todos os dias são prés desencarnes, afinal quem garante que estaremos aqui amanhã? Quando estivermos em nosso leito de morte talvez não tenhamos a chance de estarmos conscientes para dizer as últimas palavras, ou para fazer uma retrospectiva da nossa vida, nem para pedirmos perdão ou declaramos amores secretos. Viver por trás de uma casca bruta que nos blinda de nossos próprios sentimentos é uma forma de estar em coma. Se as palavras de hoje não forem as últimas que elas pelo menos sejam sinceras para ficarem eternizadas. Na dúvida de não ter tempo para uma retrospectiva, comece agora a agir e colocar os desejos em prática. O perdão foi feito para ser exercitado, coloque-o em frente ao orgulho já! Amores não declarados correm o risco de serem recíprocas não vividas.
Se ainda tiveres oportunidade exercite a vida hoje, amanhã podes ser que sejas só um frágil pedaço de carne e osso.