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domingo, 26 de janeiro de 2014

Sensação de tênis novo!



Foi no meu aniversário de oito, ou talvez de nove anos, onde pela primeira vez senti essa sensação. Na época o Ortopé Light, o “tênis da luzinha” havia acabado de ser lançado e, como qualquer outra criança eu sonhava com o meu par.  Mas so-nha-va a ponto de chamar a família na sala para assistir o comercial ou fazer meu avô parar o seu potente Fiat 147 quando meu radar enxergasse um par pelas vitrines da cidade.
Conhecendo minha família e suas condições financeiras esperava ganhar uma versão genérica do original, que na época se chamava Pop. Não tinha o glamour de um Ortopé, mas tinha a tal luzinha, o grande furor da época.  Mas não, meu padrinho me surpreendeu com um lindo par dos originais. Era uma botinha branca com detalhes berinjela, em uma época da minha vida em que eu não fazia ideia do que era berinjela. Mas se berinjela é um legume, por que diz na caixa do meu tênis¿ Na hora em que abri aquele pacote e vi a estampa da caixa tirei meus chinelos novos com tiras roxas e solado verde que usava em meu aniversário para calçar meus inéditos tênis da luzinha. E para mim caminhar sem ficar olhando para os pés se tornou um grande desafio. Era como se meus pés brilhassem, e realmente, brilhavam, a luz vermelha que contornava o solado transparente não me deixava passar despercebida. A sensação de tênis novo só se sente na primeira vez em que usamos o tênis. Só se sente enquanto e novo e principalmente, só se sente enquanto é branco. Sim, após o uso, você pode até lavar, esfregar, colocar de molho no Vanish Poder O2, na Q-boa ou no que você tiver em casa para deixar o branco mais branco. Mas o branco do tênis só se é realmente branco quando é novo. Após ele busca algum outro tom nos 50 tons de branco que devem haver pelo mundo.

Minha segunda sensação de tênis novo foi no inicio da adolescência, onde depois de muitos, mas muitos meses de muuuuito namoro nas vitrines eu finalmente ganhei o objeto de desejo. Tratava-se de um Redtag, aquele que tinha duas benditas tiras de velcro. E quem nos anos 90 não teve um daqueles¿ Os originais da época era os da Reebok, haviam de várias cores, do pretinho básico ao exótico amarelo queimado. Mas o meu foi a versão genérica e preto. Não reluziam como os brancos com berinjela que ganhei na infância, mas foram os tênis mais suados que já ganhei na vida. Lembro que de taaaanto usar eles foram se desmanchando e eu passavam nuget toda a semana para que ele não ficasse com uma cara tão velhinha. Não teve jeito, eu usei até eles literalmente se desmancharem.

Após esses dois fatos marcantes, todos os outros tênis que usei na vida duraram muito. Atualmente compro um tênis novo porque os meus antigos já estão comigo a séculos. E foi isso que aconteceu essa semana. Comprei um lindo par de adidas, em um tom de verde água, exótico e pouco discreto, para substituir o par de Nike cor-de -telha que tem sido meu companheiro de praia e caminhadas nos últimos 4 anos. Estava louca para estreá-los, abria a caixa e ficava namorando eles e ensaiava desfiles na minúscula cabine do navio em que moro atualmente. E aproveitando que eles ainda estavam com o solado novo quase dormi com eles. No dia da estreia fazia um calor de 40 graus e mesmo assim, sai com eles. Na rua só se transitavam pessoas de sandálias e chinelos. Mas quem tem tênis novo não está preocupado com essas coisas. Quem tem tênis novo quer mais é calça-los, sentir o conforto e sair por ai namorando o reflexo dos seus pés em todas as vitrines e espelhos por onde passa. Tênis novo é que nem namorado novo, a gente paquera, paquera e depois que finalmente conquista quer mais é exibir.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Cruzando fronteiras

Todos os meses quando no conforto do meu lar chegava minha revista favorita que sempre estampava as paisagens e destinos mais lindo do mundo eu me fazia a mesma pergunta: até quando eu vou só sonhar?
Foi neste ano, que por coincidência o ano que traz meu número da sorte. Que finalmente encontrei a resposta. Hora de realizar, não estou só sonhando. Entrei de gaiata no navio e não foi pelo cano. Trabalho muuuito. Como nunca trabalhei na vida. Se eu contar que limpo, varro, atendo em 3 idiomas, sirvo, carrego bandejas pesadas, equilibro pratos, limpo taças, e outras maravilhas que ninguém (inclusive eu) acreditaria. Mas acredite, o trabalho é duro e eu descobri que não sou mole. Em nenhum momento eu me senti menos ou humilhada pelo trabalho. Pelo contrário, parece que quando trabalhar em restaurante, seja servindo ou recolhendo caquinhas e farelos, é um bom exercício de humildade. 

Em contrapartida comprovei que o mediterrâneo é tão azul quanto nas fotos. Santorini ao vivo levou todos os meus suspiros. A Acrópole tem uma energia inerrável, especialmente para uma acadêmica de filosofia. Malta é de fato onde quero fazer meu intercâmbio, pude comprovar isso no tour de duas horas onde tive um panorama sobre o país. A Italia tem um gelatto deliciooooso, que só aumentou a minha lista de motivos para voltar. E se eu tivesse cruzado o estreito de Bósforo poderia ter dito que já fui a Asia, mas minha Istambul ficou só no lado europeu. Negociar com um turco de fato é uma tarefa árdua. Mas gastei mais saliva do que liras. O suco de romã fresco que se toma nas ruas da Turquia fica ainda mais gostoso de adicionar um pouco de água. Os gregos não são chamados de deuses por acaso. Os calamaritos da Espanha vão morar eternamente na memória do meu paladar. Os camelinhos da Tunisia que me esperem para que na próxima vez eu possa dar uma voltinha. Buenos Aires é mais quente que eu lembrava e os archentinos continuam combinando calça caqui com camisa azul. Lisboa é a cidade mais linda que estive nesses dias. Ah, e de fato, não coma o pastel de Belém frio, quentinho e feito na hora é muuuito melhor. Meu inglês a la "the books on the table" passou a ser um pouco menos vergonhoso, mas ainda está longe do ideal que desejo. 

De todas as versões de mim que encontrei nos últimos tempos ainda não descobri qual foi a melhor, continuo me colocando a prova. Me sinto destemida. Especialmente agora que navegamos em águas brasileiras que teoricamente temos órgãos que nos protegem. De todas as fronteiras que atravessei nenhuma foi mais satisfatória do que a que separa o sonho da realidade. A coragem e a atitude foram as melhores conselheiras que tive neste ano. E se parece que falta um pouco de romance nesta história, o jejum de 8 anos e 5 meses de singularidades foi quebrado. Romance era tudo o que eu não queria quando iniciei esta nova jornada. Hoje vejo que nem tudo é o que queremos, as vezes é simplesmente o que merecemos. E não poderia ser melhor!

Estou encerrando não só um ano, mas também um ciclo. Talvez 2013 tenha sido o melhor ano da minha vida. Foi o ano que me abri para realizar. Me tirei do papel e por consequência tive tudo o que mereci. 
Estou caminhando rumo a 2014. Rumo a continuidade e ao encontro de todas as fronteiras que separam os sonhos da realidade. 

E se eu puder dar só um conselho: realize-se!