As 23 horas de um domingo de primavera o acompanho ao leito como de costume, desta vez com a presença das quatro filhas, fazemos algumas brincadeiras para estampar um sorriso no rosto e o presenteio com uma massagem. Dou um beijo em sua face e ao lado avisto o espaço vazio na cama, o travesseiro com o cheiro dela. Próximo a porta dois pares de sapatos delicados tamanho 34 que provavelmente não mais serão usados pela dona.
Ela encontra-se no leito de um hospital, com o lado direito do cérebro paralisado, em coma profundo, com poucas chances de sair de lá com vida e certamente sem nenhuma chance de uma vida normal.
Ontem ela completou mais um aniversário, a data foi marcada pela sua ausência, e brindada com uma ponta de esperança de retorno a vida. Até poucos dias atrás ela estava ali, consciente, faceira, sentada na sala assistindo novela e tomando mate. Fazendo dos seus gestos e atitudes uma capa bruta para proteger a fragilidade que se escondia por dentro. A noticia de um quadro quase irreversilvel abala. Nunca estamos preparados para a perda física. E quando ela vem sem avisar é ainda mais dolorosa.
Todos os filhos se reuniram. No quarto as irmãs que não compartilhavam de momentos juntas desde a adolescência encontram em meio a dor um momento para compartilhar vivencias de forma leve, com sorrisos descontraídos.
Ninguém sabe o que acontecerá, o quadro pode se agravar nos próximos dias, ou pode deixar de existir. Todos estão conscientes da possibilidade da perda material. Mas entre estar consciente e estar preparado há uma barreira feita de esperança que separa os dois estágios. Não há mais vida, há um corpo presente e debilitado, aquela alma que até poucos dias dava vida a ele parece já ter partido para um outro plano. Entre o estado vegetativo e o desencarne todos preferem a segunda opção. As noites e os dias serão de vigília. Vovó está em coma, ainda não consigo acreditar. Neste momento a oração é a única fonte de paz. Não oro para que voltes, as sequelas já existem e ela jamais voltará a ser quem era até poucos dias atrás. Mas oro sim para que se viva em outro plano, que se cumpra a vida. O coma faz parte dela.
Esta é a declaração de um fato que se passa em minha família. Estamos vivendo um pré desencarne. Mas todos os dias são prés desencarnes, afinal quem garante que estaremos aqui amanhã? Quando estivermos em nosso leito de morte talvez não tenhamos a chance de estarmos conscientes para dizer as últimas palavras, ou para fazer uma retrospectiva da nossa vida, nem para pedirmos perdão ou declaramos amores secretos. Viver por trás de uma casca bruta que nos blinda de nossos próprios sentimentos é uma forma de estar em coma. Se as palavras de hoje não forem as últimas que elas pelo menos sejam sinceras para ficarem eternizadas. Na dúvida de não ter tempo para uma retrospectiva, comece agora a agir e colocar os desejos em prática. O perdão foi feito para ser exercitado, coloque-o em frente ao orgulho já! Amores não declarados correm o risco de serem recíprocas não vividas.
Se ainda tiveres oportunidade exercite a vida hoje, amanhã podes ser que sejas só um frágil pedaço de carne e osso.
Meus sinceros votos de paz e melhoras! Que o melhor para todos aconteça, conforme a vontade de Deus! Amém! Fique bem! ;*
ResponderExcluirminha piulininha... eu sei o que tu deves estar passando, e o quanto tua vó é importante pra ti. tu sabe que eu vou estar aqui, em qualquer momento, a qualquer hora, pro der e vier. pode me ligar nem que seja pra falar besteira (principalmente pra falar besteira), pra pedir colo ou o que quer tu precise.
ResponderExcluirum beijo, e toda a minha energia positiva do teu lado
te amo!
Gaby Piulina
Momentos delicados pedem a serenidade que você expressa. Poesia sempre ajuda. Olha http://papopoetico.blogspot.com/
ResponderExcluirEspero que seja legal