Há colos que só a mãe pode dar, doces que só as avós fazem e perguntas que cabem única e exclusivamente as tias avós.
As tias avós são aquelas pessoas queridas de cabelos curtos, pintados de louro acajú, que normalmente não temos muita convivência. É possível encontrá-las em velórios, aniversários, batizados e casamentos. Como estas ocasiões são praticamente anuais, passa muito tempo entre um evento e outro. Tempo suficiente para que possamos crescer, ficar mais roliça, corada, ir bem nos estudos e é claro, descolar um namorado.
Na minha família não foi diferente. Toda vez que encontro minhas queridas tias ouço: "Mas Nicole, parece que tu estás mais gordinha!" No meu caso, como sempre fui magra isto soa como elogio.
Há também o interesse pelos estudos. "Quando é que tu te forma mesmo?" ou "Tu estas prestando jornalismo né? Não tia, é filosofia!"
A memória nem sempre é muito confiável. Mas as intenções são sempre as melhores. Depois elas vão contar as amigas, orgulhosas que tem netos e sobrinhas que estão na universidade.
Mas nenhuma questão é tão certa e esperada ao encontrar com a tia quanto a clássica:
"E os namorados?"
Assim, no plural mesmo. Como se vivêssemos em uma cultura poligâmica.
Pensa bem: Você está solteira a anos, e todas as vezes que encontrou com a tia ela fez esta pergunta. Não dá para responder com muita sinceridade todas as vezes, para que a pobre senhora não fique desapontada pensando ter uma sobrinha neta tão encalhada quanto uma orca em piscina de mil litros. As respostas tem que ser bem humoradas, coisas bobas do tipo: "Estão todos bem" acompanhada de um sorriso já para encerrar o assunto.
Se pedir conselhos amorosos elas vão dizer: "Já sabe cozinhar? Aprendeu a cuidar da casa? Olha minha filha essas coisas tem que saber, homem nenhum vai querer uma mulher que não vai esperar ele com a casa limpa e a janta pronta."
No fundo até pode ser verdade, mas este não é o conselho mais adequado para os dias de hoje.
Elas nasceram em um tempo em que as prioridades eram outras. Em que a vida não era tão frenética e que o destino de uma mulher era certo: casar, procriar, cuidar da casa, dos filhos e claro, do marido. Aos vinte e muitos anos estar solteira era preocupante. O que hoje felizmente já não acontece. A geração de sobrinhas conectadas e protagonistas de romances instantâneos não prioriza os dotes domésticos e estar solteira as vésperas dos quase trinta é uma coisa super normal. Afinal, temos formação, intercâmbio, pós graduação, viagens, trabalho, amigos e romances esporádicos, para administrar com mais prioridade.
As minhas queridas tias desejo que tenham certeza de uma coisa, pode ser que demore para eu apresentar um pretendente em potencial, mas no dia que eu casar, todas estarão convidadas, em nome da sincera torcida por meu desencalhe. Podem tirar os sapatos de saltos baixos e os conjuntos com saia longa e blusa de mangas rendadas do armário para pegar um sol. Quero ver todas lá, de rouge e batom, para finalmente conferir se meu eleito é um "pão"!
As perguntas inconvenientes são únicas e exclusivas das avós e tias. Isso já faz parte da lista de tarefas delas na família. Ninguém mais tem o direito de sondar sobre meus romances ou possíveis romances, se eu não compartilhar é porque não diz respeito, né?
Os demais, contenham sua curiosidade até o dia em que tiverem sobrinhos netos para zelar.
Muito bom guria! Não vou te dizer que me surpreendes, quando disseste que teu sonho era escrever, sabia que não era sonho e sim talento natural. Só escreve quem tem coragem e isto vi em teu jeito, em teus gestos! Continua, vai em frente, breve quero receber teu livro autografado...pra tia Márcia emprestada! SUCESSO!!!
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