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segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Diário de bordo - Enfim em alto mar!

Uma cabine pequena, no subsolo de um navio, este é meu novo endereço. Meu local de trabalho fica 9 andares acima durante o dia e 5 andares durante a noite. Tenho sido muito pontual para chegar no trabalho. Minhas companheiras de cabine são ótimas, ambas brasileiras, uma já virou amiga antes mesmo de entrarmos no navio, a outra, por sorte ou ironia, é de Floripa.

Média de 11 horas diárias de trabalho literalmente pesado dividido em 2 turnos. O sono nunca vem completo, aquelas desejadas oito horas, vem em parcelas. Isso sem contar no fuso horário, aqui no mediterrâneo temos 5 horas a mais. Isso tudo junto, resulta em uma coisa chamada cansaço, as vezes exaustão. No final do dia volto para a cabine com o sincero desejo de poder flutuar, tamanha a dor nos pés. Isso me lembra os tempos de eventos, em que ficava infinitas horas em cima de um scarpin. Conforme já esperado, doem partes do meu corpo que eu nem imaginava que existiam. Estou fortalecendo minha musculatura de tanto caminhar e carregar peso. Como tudo tem um lado bom, vou descer magra e sarada no final do contrato.

Circulamos por corredores que mais parecem labirintos. Temos treinamento semanal de segurança. Andamos o tempo inteiro com uma name tag no lado esquerdo do peito. O uniforme já está andando sozinho e aquela cinta para as costas já é quase um novo membro do corpo. Fome é coisa que não se passa. Há muita comida por aqui. Muita mesmo. Durante o dia faço as refeições no crew mess, o restaurante da tripulação não oficial, em meio aos tripulantes de todas as partes do mundo, especialmente asiáticos, latinos e brasileiros. A noite comemos no restaurante em que trabalhamos, podemos inclusive comer os pratos e sobremesa que servimos.

Da janela do buffet onde trabalho durante o dia vejo a Europa passando, vejo os portos, as paisagens o mar infinito e vejo outras coisas quase inacreditáveis. Na manhã da última terça feira, meu segundo dia a bordo, comecei em torno das 6hs da manhã e ainda não havia amanhecido. Cerca de uma hora depois, o sol foi nascendo e pelas janelas eu enxergava as montanhas que sustentavam um lugar dos sonhos chamado Santorini. Pela janela eu olhava eufórica o que estava na rua, sem acreditar, querendo me beliscar. Santorini, aquele pedaço do paraíso que eu só via nas páginas da Viagem e Turismo estava finalmente diante dos meus olhos. Como diriam os colegas, são os relatos das alegrias de um primeiro contrato a bordo.

Por aqui é uma nova pequena conquista a cada dia. E cada uma delas eu comemoro cantando "We are the champions my friend". Tenho muito o que contar e compartilhar, vai ser aos poucos pois a internet e o tempo são quase artigos de luxo. Beijos de amor, de alguém que um dia decidiu não só sonhar.

Nicole Nazer