Aqui tem mais!

domingo, 15 de maio de 2016

Doidas, Santas, Cinzas e Eu

Há poucos dias atrás, minha mãe e eu fomos assistir Doidas e Santas, uma peça com texto da Martha Medeiros e um elenco promissor.
Chegando lá, as primeiras cenas me deixaram em dúvida se aquele texto era realmente da Martha. Piadas clichês e longe de uma comédia inteligente. Aquele papo antigo de celulite, mulheres falam demais, além do “sangram sete dias e não morrem”. As cenas estavam tão desinteressantes que por dois ou dez minutos cochilei na poltrona.

Despertei alguns minutos depois em um momento novo na peça, onde a protagonista tinha um diálogo com sua mãe, que lhe contava sobre como gostaria que fosse a sua morte.
“Natal, aniversários são datas que já não tem mais novidades, a morte pra mim é um evento inédito e estou sonhando com ele.”
A mãe pedia a filha que fosse cremada e que ela e a irmã fizessem uma pequena peregrinação, revisitando lugares para que suas cinzas fossem jogadas onde ela foi mais feliz. Obviamente fiz o mesmo questionamento. Quais seriam os lugares onde seriam jogadas as minhas cinzas? Eram os lugares em que me senti mais feliz!

Queria parte das minhas cinzas no mar da praia mole, em noite de lua cheia. Mas não uma lua qualquer, tinha que ser aquela que nasce mais baixa e dourada. Outra parte jogada de um paraquedas na hora do pôr do sol, pois foi essa a hora em que saltei. Também ia uma pequena parte para os fjords noruegueses. Preferencialmente em uma cachoeira em Geiranger.  Uma pequena porcentagem tem que seguir as tradições da minha tão amada India, lá no Ganges. Dizem os hindus que este é um ritual sagrado. Então quero parte de mim eternizada lá, entre o a o divino e a poluição. Outra parte em Porto Alegre, não, eu não gosto mais dela. Mas foi ela que deu parte dos melhores amigos que já fiz na vida. Pode ser no café do Lago da Redenção, onde badalei várias noites de domingo com as amigas e fui ver as tartarugas com os sobrinhos e meus pais. Quero outra parte de mim no himalaia. Lá é onde eu vi o céu mais estrelado de toda minha existência e onde comi malai kofta, um sabor que eu nunca vou esquecer. Mas quero que minhas cinzas sejam jogadas durante um passeio de moto pelas montanhas. Lembro da sensação de êxtase que senti no dia em que fiz este passeio, tinha vento balançando meus cabelos, tinha ar puro, cachoeiras, uma vista inscritível e uma sensação de liberdade jamais sentida.
Só peço que sobre uma pequena porção de mim para ser jogada, deixada ou, escondida em um arranjo de flores, de um altar ao ar livre, do casamento de pessoas que se amam muito. Eu nasci para celebrar o amor e quero que parte de mim, simbolicamente, continue a celebrar.


E você? Quais tem sido os lugares fazem você se sentir mais feliz?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Adoro comentários. Este espaço é para você deixar o seu!