Aqui tem mais!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Memórias pré póstumas


Calma, não se assuste! Não estou com o pé na cova! E tão cedo não desejo estar!
Confesso também, achar inusitado uma mulher de 20 e poucos anos falar em memórias pré póstumas. Aliás o inusitado já começa pelo próprio titulo! Mas seremos sinceros, se a morte é o único fato consumado na vida, para o pré se transformar em póstumo é só uma questão de tempo. E por desconhecer a quantidade de tempo que falta para que isso aconteça é que estou escrevendo minha carta pré póstuma.

Vamos começar pelo velório. Independente da causa da minha morte não quero caixão aberto. Existe coisa mais invasiva do que teu corpinho estar lá empalhado á amostra naquela caixa de madeixa? Cheio de algodões e retoques e os cristãos sem piedade presentes no velório lá em cima de ti, te alisando, observando as marcas que o tempo deixou no rosto e tu ali imóvel e indefeso sem poder dizer para criatura: “Vem cá tchê! Tu tens espelho em casa?”

E vá que a maquiadora da funerária estava em um mau dia quando foi me maquiar e passou uma sombra verde e um batom cobre para contrastar com o blush cor de uva. E se além disso ela tenha passado um esmalte salmom cintilante nas minhas unhas e eu tenha que ficar lá imóvel. Maquiada para um espetáculo circense e com unhas de beata! Deusulivre!

Eu não quero choro. Ai por favor. Por que o choro cria coriza e eu não quero ninguém assoando o nariz em cima de mim! Até por que a minha promoção para o plano superior não é triste, se eu to sendo promovida é por que tive merecimento! E isso merece comemoração! Portanto nada de café. Detesto café sem leite e eu jamais serviria aos meus amigos e familiares uma coisa que nem eu consumo. Quero espumante! Todo mundo na entrada do velório já ganha com uma taça de moscatel. E que não brindem minha morte, mas sim minha existência! E de tira gosto nada de balas açucaradas de hortelã e biscoitinhos de água e sal. Quero coquetel, mas sem “cocretes” e outras frituras. Quero também trufas. De graviola, morango, pimenta e avelã! Minhas prediletas!

Quero animação. Que toque muita MPB, samba, música latina e se tocar Ciega Surdomuda, da Shakira eu juro que saio do caixão para dançar mais uma vez. Essa é uma das músicas que sempre me fizeram pular do sofá para ir dançar!
E quem pula do sofá pode tranquilamente pular de dentro do caixão!

Eu não gostaria de ninguém vestisse preto. Ta certo que o pretinho é básico, emagrece e que nos filmes sempre vimos as viúvas elegantemente vestidas de preto para essas ocasiões. Mas não pretendo deixar nenhuma viúva e também não deixarei motivos para ninguém estar de luto. Por isso tire um modelito branco do armário em minha homenagem! Adoro branco!

Também não leve flores. Adoro flores. Mas pretendo desfrutar de seus perfumes e sua beleza em vida! Me mande flores agora, hoje, amanhã de manhã bem cedo e sem motivo algum! Depois de morta eu agradeço!

Não quero se enterrada com luxos, nem jóias, nem sapatos. Certamente para onde eu irei não precisarei de nada disso. Deixo meus sapatos como parte da minha herança material para as cinderelas que calçarem 37. As jóias idem. Hoje possuo um anel que 15 anos, uma pulseira de 15 anos (coisa boa fazer 15 anos!) e um pingente pantaneiro. Mas pretendo adquirir algumas pérolas e diamantes nos próximos anos!!!

Hoje ainda não possuo bens e nem herdeiros. Mas quando os fatos se consumarem pretendo ter muito o que deixar e certamente a quem deixar. Mas ai de quem crie algum tipo de desavença por causa de algum bem material. A melhor coisa que posso deixar a alguém são as boas lembranças. As gargalhadas que causei em um dia de inspiração “besterológica”. Ser lembrada por ter fito bom uso da palavras e por ter ouvido quando foi necessário, por ter ajudado, surpreendido, pela sinceridade, boa energia e bom humor.

Gostaria muito de doar meus órgãos. Tudo o que puder ser levado. Mas minha filosofia religiosa não recomenda. Mas se meus familiares autorizarem eu juro que quando for ao juízo final eu me faço de louca para ir de ambulância!

E de todos os meus desejos fúnebres o que eu mais desejo é que as pessoas que colocarão em prática tudo isso ainda nem tenham vindo ao mundo. Provavelmente meus netos. Ou meus filhos. Ou quem sabe até meu quinto Adevir (sim, se eu não for muito feliz com o primeiro Adevir vou esperar o próximo e o próximo até o dia que eu bater as botas). Desejo muito que minha morte se consuma depois que todos os meus cabelos estiverem bem branquinhos e que eu já tiver contado aos meus netos e bisnetos todas as histórias que produzi ao longo da vida para um dia compartilhar com eles.

(Voltaremos)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Adoro comentários. Este espaço é para você deixar o seu!